quarta-feira, 24 de outubro de 2012

.Eles


Ela entrou pela porta lateral da lanchonete, uma lanchonete de beira de estrada para quem vinha de fora e dentro da cidade pra quem ali morava. Era meio tarde da noite pelo menos para o resto da cidade, acordados naquele lugar ao que parecia, só eles dois mesmo e mais outros caras que bebiam e viam TV uma espécie estranha naquela localidade INQUIETOS e dos mais variados desde os mais jovens sem perspectiva alguma de se tornarem algo útil, aos mais velhos que já tinham aproveitado tudo o que suas perspectivas há anos atrás havia lhes prometido, agora ela não valia muito. Todos bebiam felizes eram todos já colegas amigos ali dentro, como quando tempos atrás na escola a diferença é que ali eles não se preparavam para o mundo, mas tentavam esquecer a maioria das coisas que ele os mostrou. Ele passou o olho pela janela olhando o céu azul-escuro, ela sentou-se num banco alto à sua frente e a do balcão e viu o azul refletido em seu rosto.
“Oi”
Disse ela.
 “Oi”
Disse ele. E assim ficaram por certo tempo evitavam se encarar, ele serviu um café e apoiou-se no balcão, ela contornava a borda do copo de vidro com a ponta do dedo, tudo muito lento.
 “Sabe, tem uma palavra...”
“Que palavra?”
 “Estática.”
“Estática?”
“Sim.”
“Que tem estática?”
“A gente tem.”
“Como assim?”
“A gente tem estática. Quero acabar.”
“Espera aí você quer terminar? por quê?”
“Porque sim”
“Por isso, é assim que você quer terminar, do nada, com um sim e que diabos tem a estática a ver com isso? Geralmente um sim leva um relacionamento a outro patamar.”
“Não aqui agora, e se acalma”
“Então é assim, é desse jeito que a gente acaba?”
“Sim, eu não te amo”
“E desde quando isso é motivo, olha em volta você acha que para alguém aqui a falta de amor é algum motivo pra terminar? Nem foi para começar, era só formalidade. Eu gosto de ti, tá me ouvindo eu gosto de ti, tu gostas de mim, tu gostas de mim não lembra? Só isso já é suficiente.”
“Mas eu gosto de outro.”
“Mas gosta de mim.”
“E também de outro e mais, já que eu quero ficar com ele. Sabe, a estática?”
“Mas que porra tem a estática? É a força que equilibra as coisas.”
“Em repouso, imóvel, é assim que nós estamos.”
“Mas também é estável, equilíbrio.”
“Não dinâmico é assim que a gente é. Quando não tá estável chato tá desequilibrado cansativo. Você tem mais força do que eu, me puxa para qualquer canto, com ele não assim.”
“Ele?”
“Ele.”
“Quem é ele?”
“Ele. Preciso ir.”
“Não, não vai.”
“Eu preciso.”
Ela levantou-se e saiu pela mesma porta que entrou, do mesmo jeito, meio vazia.

Marcadores: ,

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial