Passagens de Finitude - Parte UM
Com a luz do sol a
tapar-lhe a cara quando deveria fazê-la enxergar, ela caminha lentamente pelo
tempo e o mundo. Vem lá do fundo, das árvores, caminha entre elas na maior
intimidade consegue até ouvir o que cochicham com o vento, cada pedra range seu
mau humor quando ela as pisa, uma a uma reclamando caladas. Entorpe e viva pelo
ar caminha caminha caminha. Agora mais à frente aumenta sua velocidade a cada
passo dado, começa a correr corre corre corre. As pedras agora gritam, agonizam
em dor o sofrimento juntam vozes num coro surdo mudo. Os postes a seguem com
seus olhos cegos sem se virar para ver.A rua a observa passar
velozmente, calmamente em silêncio, não tem palavras para questioná-la para
onde vai, a rua que tudo sabe tudo vê, tudo ouve, tudo sente sempre nos outros.
Ao fim da rua surge outra a entorta e a reta apruma-a na direção certa continua
seu trajeto sem saber certamente para onde. Agora todos os olhos, bocas,
narizes e ouvidos visíveis ignoram-na sente-se finalmente segura, assegurada
entre seus próprios de que por enquanto não será atormentada. Nada pior que ser
vigiada pelo nada, sussurra com alívio.
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