Através do Vidro Tudo Fica Distante
— Merda tudo
isso me deixa estranho. — O que? — Tudo isso. — Você não quer mais fazer? — Não,
claro que quero, mas não é só isso é tudo, tudo em conjunto sabe? — Não.
— Deixa pra lá vamos logo. — Tem um otário
naquele campo ali, vamos passar por cima com o carro, engata qualquer uma aí e
acelera.
À noite era fresca dava para sentir o ar
envolver e tentar nos levar inutilmente para cima pra nos mostrar qualquer
coisa, era em vão sua tarefa, não tinha força nem capacidade com o peso humano
era muito diferente pra ele, pesado de uma forma estranha, tortuosa, ele só
conseguia observar aquela via sacra que passava pelo mundo havia muitos mil
anos, mil anos esses que pareciam sussurrar todo sofrimento e dor, ali
revoltados o tempo e o espaço há tempos ou seja lá o que for que o tempo
obedece, escravos desde muito, rogavam, exigiam imploravam nossa piedade que
lhes dessem descanso que os libertassem cessassem as manchas de sangue em seus
lençóis e em suas faces ao mesmo tempo aliviaríamos a nós mesmos.
Surdos
como sempre continuavam caminhando marcando dolorosamente o chão repetidamente
da mesma forma, novamente e novamente e novamente e novamente e novamente nunca
se cansavam. Nunca nos cansamos ou cansaremos.
—
Vai acelera, acelera, acelera.
O
homem não tinha tempo de correr para lugar algum, tudo muito rápido, o carro
veio alto em sua direção atingiu-o com uma força que o fez se sentir como se trespassado,
não nega sentiu um alívio repentino, uma alta adrenalina no segundo e uma
fração que durou seu levante do solo e escorregou de cima do capô para o chão
regozijou-se ali. Escorregando como se se sentisse apalpando uma mulher sensação
há muito tempo experimentada, foi com força ao chão, algum sangue escorreu
parecia que a própria vida se mostrava ali, em sua verdadeira forma. Passagem. Logo
cessaria, nenhum sinal de qualquer coisa. Melhor. Sentia o vento fraco, o tempo
decorrer, olhava o céu, a imensa quantidade de estrelas viu ali a maior, a
maior e interminável história não contada bem acima de sua cabeça, respirou e fechou
os olhos pela última e definitiva vez.
Marcadores: contos, tentativa literária
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial